Um terço das operações nacionais planejadas pela Polícia Federal de combate ao crime organizado no país tem como alvo facções do estado
A associação entre traficantes e grupos paramilitares — que controla cerca de 180 áreas no estado do Rio e está em franca expansão — entrou no radar do órgão central da Polícia Federal encarregado de grandes operações de combate ao crime organizado no país. Os objetivos são desarticular o poder financeiro de quadrilhas especializadas no tráfico de drogas e no contrabando de armas, além de frear o crescimento de facções como as que passaram a controlar territórios no Rio.
Um trabalho que já está bastante adiantado: de 31 operações nacionais em curso no Brasil, dez terão como alvo quadrilhas fluminenses e 80% delas atingirão a estrutura econômica dos criminosos.
Interromper o fluxo financeiro que alimenta os grupos criminosos é fundamental para derrotar o crime. Estou falando de quadrilhas de tráfico de drogas e de armas, e das facções. Milícia incluída — afirmou o delegado Elvis Secco, da Coordenação-Geral de Polícia de Repressão a Drogas e Organizações Criminosas e Lavagem de Dinheiro do Tráfico de Drogas, órgão vinculado à Diretoria de Investigação e Combate ao Crime Organizado (Dicor) da PF de Brasília.
O delegado Elvis Secco foi lotado na Polícia Federal do Paraná, antes de assumir o cargo no início deste ano na Dicor. No currículo, inúmeras operações de combate à lavagem de dinheiro do crime organizado. Esteve à frente da equipe de oito agentes que capturou em 2017 o traficante Luiz Carlos da Rocha, o Cabeça Branca , atualmente cumprindo pena na Penitenciária Federal de Catanduvas, no Paraná. Até ser preso, Cabeça Branca por duas décadas viveu como um fantasma, procurado pela polícia brasileira e de vários outros países como o maior traficante de drogas da América Latina, e com o nome na difusão vermelha da Interpol.
O trabalho de Elvis Secco em Brasília passa pela capacitação de policiais federais em cursos de crimes financeiros, intercâmbio internacional com outras agências de combate às drogas até ações na fronteira com o Paraguai de erradicação de pés de maconha. Segundo ele, o crime hoje ultrapassa cidades, estados e países.
Os braços das facções criminosas não estão limitados a Rio, São Paulo ou Amazonas. As facções que atuam no Rio já têm raízes em outros estados e outros países. As nossas investigações não se limitam ao território brasileiro, mas atingem também países que fornecem cocaína e maconha para o Brasil — disse Secco.
Com o aval da atual direção geral da Polícia Federal e do ministro Sérgio Moro, da Justiça e Segurança Pública, a Diretoria de Combate ao Crime Organizado firmou parcerias em outros países.
Já realizamos três operações batizadas de Nova Aliança, de erradicação de maconha no Paraguai, em parceria com a Secretaria Nacional de Antidrogas (Senad) daquele país. Recolhemos mais de três mil toneladas de maconha. Um trabalho de cooperação internacional dos governos do Brasil e do Paraguai. Atuando dessa forma, com inteligência, nós não estamos deixando a maconha completar seu ciclo de plantio. Três mil toneladas de maconha apreendidas no pé, correspondem a dez anos de apreensões realizadas pela PF no Brasil. Além disso, trabalhando na origem o custo é infinitamente menor — diz Secco.
O delegado afirma que o impacto dessas operações no coração financeiro das facções que atuam em território brasileiro será percebido em breve. Sem recursos com a venda de droga, haverá menos armas e munição circulando.
Estamos mudando o perfil do combate ao crime organizado. Em breve, vamos atuar na fronteira entre Peru e Brasil. Ali, o foco é a cocaína, que entra no país pelo Rio Solimões. Atacando os laboratórios que produzem a droga a partir do refino da folha da coca — completou o delegado.
As ações na fronteira, segundo Elvis Secco, estão sendo tocadas com outras em território nacional.
Aqui passamos a planejar operações de combate à lavagem de dinheiro e prisões de líderes do crime organizado, como Cabeça Branca — disse Secco.
O delegado revelou que as operações que estão sendo planejadas para acontecerem no Rio terão como foco o poder financeiro:
O crime organizado do Rio entrou no nosso foco, especialmente depois das notícias de que milicianos passaram a se associar com facções do tráfico de drogas. Não podemos dar detalhes das ações que serão realizadas, mas elas estão em curso. O que posso dizer, por enquanto, é que o crime organizado no Rio é nosso foco — revelou.
Fonte: oglobo.globo.com