Material foi encaminhado ao Supremo; ministro diz que jamais recebeu qualquer valor ilegal
A Polícia Federal elencou uma série de documentos no pedido de abertura de inquérito contra o ministro Dias Toffoli (STF) como elementos de corroboração ao depoimento de Sérgio Cabral sobre a suposta venda de decisões.
Emails, agendas com encontros entre os envolvidos na suposta negociação, mensagens por aplicativos e anotações do ex-governador do Rio foram anexados ao material encaminhado ao Supremo Tribunal Federal, que começa a julgar nesta sexta-feira (21), no plenário virtual da corte, o recurso da PGR (Procuradoria-Geral da República) contra a validade da delação de Cabral com a PF.
Toffoli tem dito desconhecer os fatos mencionados e que jamais recebeu qualquer valor ilegal. Na sexta (14), Edson Fachin, relator do caso, indeferiu os pedidos de investigação após a Procuradoria-Geral da República se manifestar contra a apuração.
Como mostrou o Painel, da Folha, boa parte dos dados que a PF juntou faz parte das operações Calicute e Boca de Lobo, cujos conteúdos foram compartilhados de um caso para outro com autorização de Fachin. Os documentos mostram, na opinião da polícia, indícios da relação de Cabral e seu grupo com José Luiz Solheiro, que seria o intermediário de Toffoli e de sua mulher, a advogada Roberta Rangel.
Ex-policial militar, segundo Cabral, Solheiro integrou a sua equipe de segurança e a do ex-governador Luiz Fernando Pezão. A PF fez uma apuração preliminar sobre o ex-PM e encontrou empresas sediadas em Jundiaí (SP) registradas em seu nome e no de um sócio.
De acordo com os investigadores, “causa estranheza o fato de essas empresas terem capital social de alto valor”, elas estarem sediadas em um mesmo endereço e serem dos mesmos donos.
“Considerando o modo como estão dispostas, há indícios de que possam ser empresas de fachada (algumas) e/ou utilizadas para confundir e dificultar a fiscalização”, diz a PF em relatório.
No início de 2013, diz o ex-governador, Solheiro teria dito que Dias Toffoli queria estreitar as relações com Cabral e sugeriu um encontro com Roberta Rangel, mulher do ministro.
“Durante o encontro, a dra. Roberta ligou para o ministro Dias Toffoli. Ele registrou a alegria, a satisfação de eu receber sua esposa e agradeceu pela colaboração e gentil recepção”, disse Cabral.
Nos anos seguintes, quando os prefeitos de Volta Redonda e Bom Jesus de Itabapoana necessitaram de ajuda no TSE, diz Cabral, Solheiro foi acionado por Pezão, à época governador do Rio.
No caso do prefeito Antônio Francisco Neto (MDB), de Volta Redonda, para corroborar as afirmações de Cabral, primeiro a PF analisou o julgamento do seu caso. Segundo Cabral, Solheiro prometeu a Pezão que por R$ 3 milhões Dias Toffoli mudaria seu voto nos embargos de declaração.
O vídeo dos julgamentos mostra que o ministro mudou seu voto. Na análise do recurso defendeu a cassação, mas nos embargos foi contra e reverteu a decisão da Justiça Eleitoral do Rio de Janeiro.
Fonte: folha.uol.com.br