Um senhor oriundo de Minas Gerais chegou à recepção da sede da Polícia Federal em Curitiba com uma garrafa de cachaça na mão. Era um presente para o ex-presidente Lula, preso numa cela especial no quarto andar do prédio, de 7 de abril de 2018 a 8 de novembro de 2019.
Coube ao agente federal Jorge Chastalo Filho, chefe do Núcleo de Operações da PF paranaense, explicar que o agrado estava fora do permitido para um detento ali na superintendência.
“Claro que eu tentei levar na brincadeira, mas o senhor insistiu, dizendo que era uma das melhores pingas de Minas. Com muita paciência consegui convencer o sujeito a levá-la embora”, disse Chastalo.
“Uma fã do Lula mandou para ele um vaso com flores e eu não deixei entrar, por ser de vidro. Outro queria que eu entregasse a ele um crucifixo de ferro. Não dava, a peça era cheia de pontas.”
Foi Chastalo quem controlou por mais de um ano e meio a vida do ex-presidente da República. Todos os dias, às 8h em ponto, ele abria a porta da cela especial de Lula. Às 17h, trancava o petista novamente. O local tinha 15 metros quadrados, com banheiro, e ficava isolado no último andar do prédio. Ele não teve contato com outros presos, que ficavam na carceragem, no primeiro andar.
Chastalo comandava os oito carcereiros que se revezaram de guarda, de dois em dois, em frente à porta da cela de Lula. Os agentes cumpriam turnos de 24 horas de trabalho por 72 horas de folga. A convivência entre Chastalo e Lula está descrita no livro A Elite na Cadeia – O dia a dia dos presos da Lava Jato, do jornalista Wálter Nunes, repórter da Folha. A obra, da editora Objetiva e que chega às livrarias no próximo dia 22, retrata o cotidiano na prisão dos principais alvos da maior operação de combate à corrupção do país.
Os casos se passam nas carceragens da Polícia Federal, em Curitiba, e no Complexo Médico Penal, em Pinhais, presídio estadual do Paraná onde os presos do Petrolão cumprem pena. Por 280 páginas, o livro relata episódios envolvendo o ex-presidente Lula, o empreiteiro Marcelo Odebrecht, o ex-ministro Antonio Palocci, o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha, o ex-governador Beto Richa e outros personagens célebres presos pela Polícia Federal.
Fonte: folha.uol.com.br