Santa Catarina no alvo de investigações da Polícia Federal

Duas operações em menos de 20 dias lançam suspeitas sobre atos ocorridos em diferentes esferas de poder e impactam o Estado

Duas operações distintas da Polícia Federal (PF) em um intervalo de 20 dias estremeceram a política de Santa Catarina em junho. As investigações apuram fatos ligados a diferentes esferas do poder estadual: governo do Estado, Assembleia Legislativa (Alesc) e, há duas semanas, a prefeitura da Capital.

A primeira a ir às ruas foi a Operação Alcatraz, que apura suspeitas de fraudes em licitações e repasses de valores indevidos em duas pastas do governo do Estado. Um ex-secretário-adjunto e um ex-chefe de empresa pública foram presos preventivamente. A suspeita teria ainda ligação com o Legislativo, pela relação entre um dos suspeitos e o presidente da Alesc, Julio Garcia (PSD).

Já a Operação Chabu, que completa duas semanas na terça-feira (2), investiga suposto vazamento de informações sigilosas da própria PF e estendeu efeitos à política ao cumprir mandado de prisão temporária contra o prefeito de Florianópolis, Gean Loureiro, (sem partido), liberado no mesmo dia.

As investigações que voltaram a unir o noticiário policial e político no Estado ainda se referem a fatos sendo apurados. São baseados em denúncias que, após uma averiguação inicial, resultam em mandados de prisão temporária ou preventiva até que se defina a existência ou não de um processo.

Ainda assim, mesmo sem ninguém condenado até o momento, os fatos suscitam dúvidas sobre o que fez a política de Santa Catarina ocupar esse espaço negativo como alvo de operações e quais são os reflexos disso para os partidos e a atividade política.

Lideranças das maiores siglas do Estado evitam críticas ou julgamentos sobre as operações recentes – em especial no caso da Chabu, sobre a qual a investigação por enquanto divulgou um volume menor de informações e dos motivos das prisões em comparação à Alcatraz. No entanto, manifestam preocupação de que as suspeitas em curso sobre pessoas investigadas não recaiam de forma generalizada sobre toda a atividade política.

Interferência nacional
O professor de Sociologia e Ciência Política da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Julian Borba, afirma que não é possível separar o contexto estadual do nacional. Por isso, as operações recentes no Estado contribuem para um acúmulo de denúncias de corrupção dos últimos anos no cenário nacional.

Na avaliação do professor, isso até pode vir a representar um controle mais forte sobre os governos, mas hoje provoca, sobretudo, uma sensação de descrença nas instituições, como os partidos e o parlamento.

— Isso tem reflexo no aprofundamento do distanciamento do eleitor em relação à política e, possivelmente, como no ano passado, em uma escolha eleitoral que busca renovação, candidatos de fora do ambiente político, que estejam longe dos partidos. Resta avaliar, e ainda é cedo, qual o impacto desses processos de renovação e de busca por candidatos de fora da política tradicional sobre a própria gestão do Estado. Em que medida esses processos de renovação vão produzir melhores resultados — salienta.

Lideranças partidárias evitam fazer relações entre as duas investigações recentes e também ligá-las a conjunturas e partidos que integravam o governo. Para o professor de Ciências Políticas Valmir dos Passos o que se sabe até agora não permite concluir que haveria uma atividade ilícita em grande escala, como a investigada na Lava-Jato, por exemplo.

— As pessoas apontadas não eram de grande alcance político-administrativo, e isso se localizou em dois órgãos — sustenta, em referência à Alcatraz.

Líderes de partidos pedem cautela e apuração rigorosa
Líderes das siglas também se manifestam no sentido de apurar os fatos com cautela. O deputado estadual Marcos Vieira, presidente do PSDB em Santa Catarina, reconhece que ter pessoas no alvo de operações é ruim para a política do Estado. Porém, defende que o índice de corrupção em SC é menor do que em outras regiões do país e que, por ser politizado, o eleitor catarinense vigia mais.

— Em todo segmento há os bons e as maus. Se alguém praticou algo errado, que pague, mas o Estado tem que seguir — frisa.

Fonte: nsctotal.com.br