Polícia Federal já recolheu mais de 7,6 mil cédulas falsificadas, neste ano. Valor nominal apreendido e número de presos também aumentou, em um ano. A maioria das notas falsas é comprada nas redes sociais e enviada pelos Correios
Sabe aquela cédula de real que você recebeu, dobrou e guardou no bolso, sem nem prestar atenção? Ela pode ser falsa. E você já pode ter repassado uma dessas, também. As quadrilhas de falsificação de moeda estão se aperfeiçoando e os custos para produção das notas também estão menores. Mas a Polícia Federal (PF) e outros órgãos intensificaram a vigilância. Em 2019, a PF já apreendeu seis vezes mais notas falsas do que no ano inteiro de 2018, no Ceará.
No ano passado, foram retidas 1.173 cédulas falsificadas. No ano corrente, até o dia 12 de dezembro último, o número já chegava a 7.617 unidades - faltando mais de duas semanas - o que significa um acréscimo de 549,3%. A intensificação da atividade dos criminosos e da reação da Polícia Federal representou também um aumento em ocorrências de flagrantes (de 11 para 20, em um ano) e em suspeitos capturados (de 15 para 23). Ao somar o valor nominal das notas falsas, passou de R$ 89.540 para R$ 227.075.
O chefe substituto da Delegacia de Repressão a Crimes Fazendários (Delefaz), delegado federal Leonardo Pordeus Barroso, revela que "hoje, com a facilidade por Internet e com a diminuição do custo de impressoras e equipamentos de informática, o cidadão, sem gastar muito, consegue fabricar cédulas em casa, com boa qualidade e capaz de enganar o cidadão desatento".
Em contrapartida, segundo ele, "durante este ano, existiu um trabalho proativo da Polícia em investigar sites, redes sociais, que oferecem cédulas falsas para quem quiser. E os Correios, que cuidam da distribuição, também têm feito o trabalho de inteligência, em âmbito nacional. Além das denúncias que são feitas".
De acordo com o investigador, a maioria das notas falsas é comprada em redes sociais e enviada por correspondência pela Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT), conhecida como Correios. A reportagem questionou à empresa sobre o uso do serviço de correspondência para práticas ilícitas e as medidas de segurança adotadas, mas não obteve resposta até o fechamento desta matéria.
A Delefaz trabalha para descobrir a origem dessas cédulas que chegaram ao Ceará. "A facilidade de enviar para todo o Brasil, às vezes até para o exterior e receber do exterior, tem sido grande. Está sendo feito o levantamento desses dados para conseguir se chegar a uma organização criminosa que centralize isso em âmbito de Brasil", explica.
Os compradores moram em todas as regiões do Ceará. Conforme Barroso, o perfil deste criminoso, na maioria dos casos, é de pessoa jovem, sem antecedentes criminais. "São jovens, que pensam em, de forma rápida, conseguir dinheiro para sair, gastar em festa. E muitas vezes, orientados pelos fabricantes, eles se utilizam de aglomerações, locais de baixa luminosidade e de grande fluxo, para conseguir passar a cédula sem o vendedor estar com o nível de atenção elevado", alerta.
Tanto quem fabrica a moeda falsa como quem compra podem responder pelo crime previsto no artigo 289 do Código Penal Brasileiro (CPB), com pena de três a doze anos de reclusão. Enquanto quem recebe cédulas falsificadas e recoloca no mercado, com o objetivo de recuperar o prejuízo, pode ser autuado em um Termo Circunstanciado de Ocorrência (TCO), por ser um crime de menor gravidade.
Fim de ano
Somente neste mês de dezembro, já foram sete ocorrências de moeda falsa registradas pela PF. Na última sexta-feira (13), uma encomenda postal foi apreendida com 20 notas falsas de R$ 50, o que totaliza R$ 1 mil, em Fortaleza, mas ninguém foi preso. Na quinta-feira (12), um paraense de 34 anos foi detido com 45 notas de R$ 20, ou seja, um total de R$900, na agência dos Correios de Tejuçuoca.
No dia anterior (11), um jovem de 19 anos também foi preso pela PF em uma agência dos Correios, no bairro Monte Castelo, na Capital, na posse de duas encomendas postais, que continham 12 cédulas falsas de R$100 e uma de R$20, o que soma R$1.220. Outros cinco suspeitos foram capturados em quatro abordagens, nos dias 2 e 6 deste mês.
Segundo o chefe substituto da Delefaz, no período de fim de ano, a falsificação de notas se intensifica, com o intuito de utilizar em festas. "O comércio mais formal está mais atento para esse tipo de crime. Um caixa de banco dificilmente vai ser vítima, porque tem o treinamento. Agora, um comércio de rua, de festa, uma barraca de praia, que têm um grande fluxo e uma baixa atenção naquele momento, são as maiores vítimas", compara.
Cuidados
As notas de R$ 100 e R$ 50 são os principais alvos de falsificação pelas quadrilhas, no País. Mas também são as cédulas que reúnem mais mecanismos de segurança desenvolvidos pelo Banco Central (confira na próxima página). O perito criminal federal, da PF no Ceará, Virgilio Mathieson Tavares, afirma que o público em geral precisa conhecer a moeda nacional.
"Para identificar uma cédula falsa, você tem que conhecer a impressão e as características da cédula autêntica, que tem uma impressão de boa qualidade, um papel de melhor qualidade, alguns elementos de segurança, que você vai distinguir da falsa. Com o mínimo de instrução, você vai realizar pequenas comparações, não precisa estar com a cédula autêntica em mãos. Com o conhecimento que você tem na memória, vai conseguir verificar quatro ou cinco elementos que vão dar a certeza se aquela cédula é autêntica ou falsa", garante Tavares.
O perito criminal recomenda que as pessoas acessem o site do Banco Central ou instalem o aplicativo Dinheiro Brasileiro, desenvolvido pelo BC, que explicam detalhadamente cada mecanismo de segurança de todas as cédulas de real e auxiliam na comparação de uma nota suspeita com um modelo autêntico.
O delegado Leonardo Barroso acrescenta outras dicas para não ser vítima do crime: "Se for um comércio de grande fluxo, adquirir um aparelho de luz ultravioleta, que pode detectar a falsidade. Para o cidadão comum, ao receber um dinheiro de alguém que você não tem tanta confiança, conferir a qualidade da cédula, olhar contra a luz para ver o tipo de papel e, em último caso, levar a um banco, para ter certeza se aquela cédula é verdadeira ou falsa".
Fonte: diariodonordeste.verdesmares.com.br