Em meio à crise econômica, política e social vivida pela nação brasileira, e às lutas contra as arbitrariedades cometidas pela União contra a classe dos policiais federais, cumpre destacarmos a importância do que será comemorado e relembrado neste domingo. Nesse dia 08 (oito) de março é comemorado o Dia Internacional da Mulher em função de um fatídico acontecimento histórico, um incêndio na fábrica Triangle Shirtwaist, situada em Nova Iorque, sendo tal calamidade provocada pelas más condições de segurança do edifício, que ocasionou na morte de 146 costureiras.
Este triste acontecimento, representando as arbitrariedades cometidas contra o sexo feminino, foi inspiração para a criação desta data comemorativa que vem sido desvirtuada, transformada pelo consumismo, uma data para aumentar o lucro das floriculturas, para os empresários presentearem as funcionárias com lembrancinhas e para se exaltar, de maneira machista, a emotividade das mulheres como se fosse fragilidade.
Mas hoje, nós traremos à memória a raiz da existência de tal dia especial, único em razão das homenageadas que são únicas. Parabenizamos todas as sindicalizadas neste dia por conciliarem com tanta harmonia a fortaleza e a sensibilidade, por exercerem com tanto amor e empenho a maternidade, por completarem a fria razão com o calor da emoção que somente o coração feminino pode dimensionar, por contribuírem com expressiva eficiência para as conquistas do Departamento de Polícia Federal, honrando assim o título de servidora pública, que vem sido tão desmerecido no Brasil.
Adolfo estará, brevemente, entrando no seleto grupo dos sessentões. Em razão da ausência da extinta cabeleira, restam-lhe poucos, mas fiéis cabelos brancos. Por esta razão a sua idade, para muitos, aparenta dois ou três anos mais. Este fato contribui para que ele, aos 58 anos, passasse por momentos hilário, vexatório ou até mesmo cômico, para quem estar por trás da vitrine, nas conhecidas filas preferenciais.
************
Certo dia Adolfo se dirigiu a uma determinada agência bancária para fazer uma operação de praxe. Lá, uma educada funcionária olhou-o e, de pronto, deu-lhe a senha número 10.
Dirigiu-se às cadeiras.
Ao seu lado, uma senhora incomodada pela morosidade natural, perguntou-lhe o número da sua senha. A minha senha, Senhora, é a de número dez. Disse Adolfo.
Ela, indiscreta, evidenciando suspeita, estica o pescoço, franze a testa e replica: O Senhor é preferencial? A pergunta curiosa exigiu que Adolfo pusesse os óculos e atento confirmasse a sua senha. E lá estava: “Preferencial 10”
Aturdido, respondeu-lhe incontinenti e mentirosamente: Sim, sou preferencial. Ela olhou-o mais uma vez e com os olhos desconfiados passou a folhear, desassossegada, uma revista semanal.
No mês seguinte, como de costume, Adolfo se dirigiu novamente a mesma agência.
Lá, outra funcionária, indiscreta, o atendeu. Após o cumprimento de boas vindas Adolfo se antecipa; Senhorita, por gentileza: uma senha para uma transferência bancária, mas não sou preferencial.
A simpática funcionária parou por segundos a operação em andamento, e indiscretamente assim se dirigiu: “Desculpa, mas o senhor não é preferencial?”
Não senhorita, falta-me dois anos para entrar nesse seleto grupo. Disse Adolfo.
Foi às cadeiras de espera e lá ficou rindo e a pensar: “Se correr o bicho pega; se ficar o bicho come”
**********
Outro dia, Adolfo se dirigiu apressadamente a outra agência para fazer uma transferência bancária. Em face da urgência chegou 10 a 15 minutos antes da abertura do banco e ficou numa fila onde já se encontravam entre 10 a 15 jovens. Office boys, talvez, pois portavam, consigo, inúmeras faturas, carnês, etc...
De repente foi surpreendido por um guarda do próprio banco que, sem pedir licença puxa-lhe pelo braço e o leva a outra porta, ainda na parte externa do banco.
Satisfeito por ser o primeiro da fila ficou folheando a “Exame”, aguardando a abertura da agência.
A sua satisfação foi interrompida quando, de repente, se aproxima um senhor octogenário e o indaga:
_ Aqui é a “preferencial?”
Foi quando Adolfo se deu conta de onde se encontrava. Mais uma vez, constrangido e mentirosamente respondeu ao indiscreto velhinho:
Sim, Senhor, aqui é a fila preferencial.
O velhinho desconfiado da suposta mentira foi para a fila, atrás do Adolfo.
Instante depois Adolfo percebeu, pelo rabo de olho, que já se encontrava atrás de si em torno de dez a quinze verdadeiros velhinhos.
Muito constrangido ficou ansioso aguardando a abertura do banco quando a passos curtos e lentos foi à sua presença outro velhinho e, com a sinceridade de uma criança olhou-o dos pés a cabeça, afirmando para os demais: “Eu também acho que ele não tem sessenta anos!”
Bastante acuado, Adolfo pensou em retornar para a fila de origem, mas aquela já estava quilométrica.
Ficou na “preferencial” olhando as palavras da revista, sem, contudo, assimilar o seu conteúdo.
Às dez horas, exatamente, abrem-se as portas e Adolfo se dirige apressadamente à fila de direito.
Com um olhar desconfiado olha para o Caixa “Preferencial” e lá avista os seus ex-colegas de fila, os sábios e sinceros velhinhos olhando para um lado, para outro, a procura, com certeza, do Adolfo cara-de-pau.
Abilio, 7 jul 2011Página 269 de 287